Francisco Olympio de Oliveira, c. 1910 Francisco e Maria de Lourdes casam, 1920 Francisco Olympio de Oliveira, 1954

Era uma vez Francisco Olympio

A grande seca

Em 1878, numa fazenda em Quixadá, na serra cearense, nasce um menino no auge da maior seca do século XIX. Ele perde a mãe aos cinco anos, o pai aos nove, ficando encarregado de cinco irmãos mais novos até um tio tomar conta deles. A educação era muito severa, até rude, como usual naquela época de flagelos. Naqueles tempos difíceis, já se previa o espírito batalhador de Francisco Olympio de Oliveira, que, adolescente, foge para o Rio de Janeiro no início da nossa jovem República, logo se emprega em um escritório, retoma seus estudos e, finalmente, aporta no Espírito Santo na virada do século XX.

Os primeiros negócios

Francisco Olympio trabalha abrindo estradas, fornecendo materiais e desenvolvendo negócios que o levam até o Amazonas, onde se estabelece em pleno ciclo da borracha, quando Manaus atingiu seu ápice e chegou a ser chamada de “Paris dos Trópicos”. Entra no ramo da borracha e compra seringais, mas já percebe, no coração daquela sociedade cada vez mais sofisticada, a importância da cosmética e das fórmulas de higiene e beleza.

Com o declínio da indústria da borracha, por volta de 1912, Francisco Olympio muda-se para a cidade amazonense de Itacoatiara, onde começa sua etapa de pecuarista e fazendeiro. Alguns anos depois, elege-se prefeito da cidade e, em 1920, se casa com Maria de Lourdes, 24 anos mais jovem.

Sem medo dos reveses

Eram felizes, mas lamentavelmente perderam alguns filhos ainda recem nascidos. As violentas lutas políticas, por um lado, e a perda dos filhos por outro, fizeram Francisco Olympio planejar mais uma mudança. Vendeu tudo e se estabeleceu na Bahia, dedicando-se à comercialização de gado zebu. Mas, dessa vez, os negócios não foram bem, e Maria de Lourdes enfrentava uma profunda depressão.

Novamente, o destemido Francisco Olympio, que já contava com mais de 50 anos de idade, decidiu vender tudo que lhe restava e embarcar num navio com a esposa rumo à capital da República, o Rio de Janeiro, cidade em que o prestigioso clínico Miguel Couto viria a tratar e curar a depressão de Maria de Lurdes.

Uma autêntica start-up em 1929

O casal foi morar no bairro de Laranjeiras, numa pensão de dois quartos na rua Ipiranga 51, onde a família Oliveira começou seu mais audacioso empreendimento: uma inspirada fórmula cosmética, ideia que Francisco Olympio, com sua intuição e olhar aguçado, vinha amadurecendo desde os tempos de Manaus.

Com a ajuda de um amigo farmacêutico e da esposa, produziram as primeiras unidades do produto num dos quartos da pensão. Para não incomodar a vizinhança, fechavam as caixas de madeira com a mercadoria, martelando-as no momento em que o bonde passava. Com muita visão de marketing, Francisco Olympio divulgou o Leite de Rosas colando cartazes pelas ruas do bairro, e arredores, durante as madrugadas.

A empresa foi registrada em 29 de julho de 1929 como F. O. de Oliveira Ltda., com telefone 5-3655.

O Leite de Rosas tinha nascido!

O céu é o limite

Cinco anos mais tarde, já com as pequenas filhas Maria Coeli e Helena, a família mudou-se para o bairro do Jardim Botânico, instalou o negócio na garagem da casa e contratou seu primeiro funcionário.

A partir de então, a empresa, já conhecida como Laboratórios Leite de Rosas, multiplicou seu alcance pelo Brasil, sempre sob a batuta exemplar de Francisco Olympio, que se orgulhava de ter criado uma das primeiras, se não a primeira empresa, a empregar funcionárias melhor pagas do que os homens em outras indústrias, e ocupando cargos executivos e de gerência.

Porque, para a Leite de Rosas, o valor da tradição nunca foi incompatível com a vontade de inovação. Mas essa é uma parte da história que contaremos depois.